Music & Readings

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O músico



Hoje eu me sinto meio deprimido, meio "down"... o mais interessante nesta história é que, por vezes já me perguntei o por quê... e por vezes a resposta é: eu não sei! Algo que nem sei bem o que é, me deixou meio contemplativo... mais observador que de costume! As coisas parecem chamar mais a minha atenção. Estranho ou não, fui levado a escrever isto. Não tive o intúito de me dissertar... mas somente de dividir o "algo" que me arrebata...

Neste exato momento eu escrevo dentro do trem, rumo à minha casa... vazia. Mas algo me chamou a atenção antes de estar aqui: o músico. Ao descer as escadas de acesso ao metrô, me deparei com uma situação que não era nova para mim: o músico... o saxofonista. Sabe aquelas cenas de filme americano nas quais você vê um músico tocando por centavos? Pois é! Era isso. Eu no metrô e ele alí: sentadinho tocando com cara de satisfação. Até parece que ele fazia parte daquele cenário desde muito tempo.

O engraçado nisto é que ele estava tocando "Dying Young" do Kenny G. Uma música linda... muito tocante... Curioso eu perceber isso, porque ele parecia tocar um arranjo desarranjado... algo do tipo: "eu não ensaiei" ou "eu prefiro a minha própria versão". Só consegui descobrir a música porque a parte mais arrebatadora da melodia sem letra é inesquecível para mim. (Ouça e você vai me entender...)

O fato é: fiz algo que surpreendeu a mim mesmo. Ao lado do músico - um senhor já de cabeça branca, pouca estatura e, acredite no que eu digo, de uma determinação incrível apesar dos aparentes sessenta e alguns anos - estava a caixa do seu instrumento... próxima a ela, uma placa cujos dizeres tratavam de sua arte. Não me recordo, com franqueza, do que havia escrito alí, mesmo por que eu passei com certa pressa... mas isto não vem ao caso. Enfim... a maleta também me chamou a atençaõ. Estava lá com no máximo uns poucos trocados. Sei lá; talvez oito reais. E eu... eu contribui com mais um. Sei que parece ser algo ínfimo e de fato foi.

Digo o por quê: um simples músico, com uma música simples e mal arranjada me chamou a atenção. Algo que normalmente nunca ocorre, modificou meu percurso para uma ação aparentemente simples, como deixar um mísero real na maleta, mas com muito significado... Talvez por que devia ter sido assim... talvez por que a contemplação me levou a essa conclusão... ou talvez por que foi tão óbvio que mereceu reflexão.

Eu deixei alí a minha contribuição. Eu deixei alí um pouco do meu esforço. Eu deixei alí uma parte da minha determinação... Determinação! Esta é a palavra: Esta foi a força que me levou a contribuir com aquele senhor! Seria isso possível de ser traduzido em "pena" ou, meramente, "compaixão"? Não mesmo!

O que eu quero dizer é que, mesmo tocando de maneira não atraente aos ouvidos, aquele senhor mereceu uma parte da minha determinação. Por que? Porque ele me fez acreditar na determinação dele. A sua forma de tocar não chamou a minha atenção... Mas a sua devoção àquilo que estava fazendo, sim! Ele acreditava na sua própria arte como forma de, através dela, obter seu sustento. Ainda assim, parece que tudo isto é bobeira ou, simplesmente, devaneio... mas foi a minha essência gritando para mim num momento de desespero para que eu me "acredite", para que eu me dê "crédito"... mesmo que esse crédito seja ínfimo... mas ele é necessário.

A verdade é que, o que a outros olhos pode parecer uma coisa em vão, para mim, agora, é repleto de significado: eu aprendi com alguém que ví, apenas duas vezes, que determinação é a chave... nas escadarias do metrô, ou aqui mesmo: dentro de mim. Engraçado como eu sempre soube disto, sem jamais ter sentido isto! Parece que é assim... não adianta falar de determinação... falar de determinação não determina ninguém... não haverá sentido nela, a menos que a gente a sinta...

Agora chove... contemplativo...

Minha estação é a próxima. Esta foi a minha viagem de metrô mais rápida... agora... fico por aqui...

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