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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Por que a sabedoria vem de lá...


domingo, 9 de janeiro de 2011

127.0.01 ou "Voltando Pra Casa".

Rosaceae Rosa Palustris. Rosa dos Pântanos. Embora a rosa dos pântanos não cresça só em pântanos, ela só consegue viver bonita como a que está aí ao lado com um mix muito específico de nutrientes, que depende ou de adubos especializados ou da morte freqüente e massiva de coisas perto dela, para que ela se aproveite da biomassa.

Uso-a em caráter de analogia. Tenho um primo - Avelino Júnior - que sofre, neste exato momento de uma grave e fatal doença neurodegenerativa. De acordo com os relatos dos parentes que foram e vão visitá-lo periódicamente, porque eu nunca fui, ele perdeu todos os movimentos espontâneos, e seu coração só bate porque um respirador artificial está substituindo o trabalho da caixa toráxica. Seus olhos precisam ser fechados pela esposa e pela mãe porque secam se ficarem abertos - visto que ele não consegue abrí-los ou fechá-los sozinho.

Os últimos anos de sua vida, jovem e cheia de promessas, se acabando em tratamentos e paliativos para a morte que já não vinha num horizonte distante, mas num galope firme e à tropel - mas que ainda não chegou. Quando do diagnóstico, ele ia se casar e estava se formando. Sabendo que a doença era fatal, ainda assim ele resolveu se casar, fazer formatura e tals. A última lembrança que eu tenho dele é caminhando com alguma dificuldade, mas sorrindo e falando besteira - como todo mundo aqui em casa, não tem bom-senso pra lever nem a morte a sério. Nunca fui visitá-lo porque não quero outra lembrança dele que não essa e as que tenho de quando a gente brincava junto quando criança.

Não converso muito com a minha avó. Não porque eu não queira ou não goste dela - Ao contrário, sempre que conversamos ela me mostra ser um poço de sabedoria infinita, eu é que sou um neto desnaturado mesmo, mas hoje estávamos conversando e surgiu o assunto. Ela me disse que se sentia triste pelo neto, mas a frase que marcou a conversa pra mim foi.

"Meu filho, Deus sabe o que faz. A gente não sabe nem do que fala".

Estou aqui aprendendo a valorizar meu silêncio e passando uma tarde introspectiva. Penso em como a iminência da morte do meu primo mudou minha família, quebrou egos, mudou disposições, ensinou sobre a força e a brevidade da vida e penso que, com certeza próxima de sua passagem dessa pra uma melhor e com o fim de todas as esperanças e medos relacionados, algumas flores já começam a surgir, tímidas e envergonhadas, mas ainda assim. Quando acontecer, as pessoas vão aprender, vão crescer. Vão carregar consigo feridas que não vão fechar nunca, mas a vida vai prosseguir, e da morte dele e dos pequenos pedaços de todos os que o amam, essas flores vão se tornar grandes e bonitas.

"Quem pode impedir a Primavera?

Quem?…
Se os sonhos maus do Inverno dão lugar à Primavera"?


Donnie César
minholabirinto.blogspot.com

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