Music & Readings

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domingo, 14 de agosto de 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cáritas midiática



Carita - Latim = Caridade...

Por que a tragédia evidenciada chama mais a atenção?

Janeiro. Rio de Janeiro. Deslizamentos. Morte. 700 crescente.

Estava trabalhando outro dia desses quando ouço, pelo mero e torpe fato de adorar esbiutar, uma senhora adentrar a escola e questionar:

"Moça, você pode me dizer onde é que fica a Cruz Vermelha?"
Prontamente a supervisora expica-lhe e ´lhe dá o direcionamento...

Portanto... reflexão!

Não lhe parece engraçaco o fato de as pessoas se tornarem mais caridosas tão somente por se verem tocadas pelo sofrimento de refugiados de tragédias naturais?
Muito provavelmente essas pessoas ajudam as em franca sofreguidão por que veem, a todo momento, no noticiário, o número de mortos aumentar e o número de brasileiros diminuir... ou talvez se sentem no dever moral de ajudar a quem sofre, ou ainda existe a possibilidade de pôrem a prova sua própria capacidade de se deixar tocar pelo sofrimento do próximo, mas enfim... devaneios menos...

Não me tomem como um insensível, gélido e pérfido... Esclareço meu ponto...

Por que as pessoas se sentem tão tocadas perante tal cenário ao ponto de se doarem pelo outro, quando o mesmo não acontece aqui mesmo?... quero dizer, não é necessário ir pra muito longe.

Me vem à mente agora uma passagem que me deixou deveras aturdido. Fome Zero, ano um. Novidade para todos. Vamos acabar com a fome no nordeste... Tudo bem, reconheçamos que muitos nordestinos morrem de fome pelo flagélo da seca, mas... a fome existe em qualquer lugar... não que os famintos daqui mereçam mais que os de lá e vice-versa. A fome e implacável para qualquer estômago, idependente de posicionamento geográfico.

Contudo, pode ser mais interessante para alguém a hipótese de ajudar o nordeste e tornar tudo um grande espetáculo midiático... vai saber... nese ínterim, as pessoas que se alojam e residem às calçacas da sua cidade, passam pela mesma fome e ganham de boa parte do mundo à sua volta o desprezo... a indiferença.

Pessoas vivem tragédias urbanas tão graves quantos as impostas às pessoas que veem a própria casa desmoronar morro a baixo ou as que sequer têm esse privilégio. Não que essas pessoas não mereçam nossa infinita compaixão e doação. Elas precisam e muito.

Mas e os que vivem tragédias pessoais ao longo de 365 dias? Esse sentimento de preocupação com o outro bem que poderia ser algo que acontece todos os dias, com os necessitados daqui, daí mesmo... à sua porta... que esse arrebatar se torne algo perene, independente de trágicos acontecimentos, de informativos televisivos...

Que as pessoas se sintam caridosas e não se tornem como tal à medida que tragédias se deem.

Por que a sabedoria vem de lá...


domingo, 9 de janeiro de 2011

127.0.01 ou "Voltando Pra Casa".

Rosaceae Rosa Palustris. Rosa dos Pântanos. Embora a rosa dos pântanos não cresça só em pântanos, ela só consegue viver bonita como a que está aí ao lado com um mix muito específico de nutrientes, que depende ou de adubos especializados ou da morte freqüente e massiva de coisas perto dela, para que ela se aproveite da biomassa.

Uso-a em caráter de analogia. Tenho um primo - Avelino Júnior - que sofre, neste exato momento de uma grave e fatal doença neurodegenerativa. De acordo com os relatos dos parentes que foram e vão visitá-lo periódicamente, porque eu nunca fui, ele perdeu todos os movimentos espontâneos, e seu coração só bate porque um respirador artificial está substituindo o trabalho da caixa toráxica. Seus olhos precisam ser fechados pela esposa e pela mãe porque secam se ficarem abertos - visto que ele não consegue abrí-los ou fechá-los sozinho.

Os últimos anos de sua vida, jovem e cheia de promessas, se acabando em tratamentos e paliativos para a morte que já não vinha num horizonte distante, mas num galope firme e à tropel - mas que ainda não chegou. Quando do diagnóstico, ele ia se casar e estava se formando. Sabendo que a doença era fatal, ainda assim ele resolveu se casar, fazer formatura e tals. A última lembrança que eu tenho dele é caminhando com alguma dificuldade, mas sorrindo e falando besteira - como todo mundo aqui em casa, não tem bom-senso pra lever nem a morte a sério. Nunca fui visitá-lo porque não quero outra lembrança dele que não essa e as que tenho de quando a gente brincava junto quando criança.

Não converso muito com a minha avó. Não porque eu não queira ou não goste dela - Ao contrário, sempre que conversamos ela me mostra ser um poço de sabedoria infinita, eu é que sou um neto desnaturado mesmo, mas hoje estávamos conversando e surgiu o assunto. Ela me disse que se sentia triste pelo neto, mas a frase que marcou a conversa pra mim foi.

"Meu filho, Deus sabe o que faz. A gente não sabe nem do que fala".

Estou aqui aprendendo a valorizar meu silêncio e passando uma tarde introspectiva. Penso em como a iminência da morte do meu primo mudou minha família, quebrou egos, mudou disposições, ensinou sobre a força e a brevidade da vida e penso que, com certeza próxima de sua passagem dessa pra uma melhor e com o fim de todas as esperanças e medos relacionados, algumas flores já começam a surgir, tímidas e envergonhadas, mas ainda assim. Quando acontecer, as pessoas vão aprender, vão crescer. Vão carregar consigo feridas que não vão fechar nunca, mas a vida vai prosseguir, e da morte dele e dos pequenos pedaços de todos os que o amam, essas flores vão se tornar grandes e bonitas.

"Quem pode impedir a Primavera?

Quem?…
Se os sonhos maus do Inverno dão lugar à Primavera"?


Donnie César
minholabirinto.blogspot.com